sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Quatro poemas, duas perseguições e uma aventura


quatro poemas


Os bolsos são muito úteis porque podem guardar escovas ou dinheiro. Mas a saia solar de Minna não tem bolsos. Enquanto a costurava, Anton sugeriu-lhe que não acrescentasse ao tecido qualquer espécie de poço em miniatura que lhe assediasse o movimento dos ossos.

Uma tarde de sábado as folhas onde Webern tinha escrito as seis peças para grande orquestra caíram para dentro de um barril de vodka. Quando Minna o avisou, ele correu para a janela e olhou para baixo. A distância era grande. "Então talvez também eu possa um dia cair assim, nadar com uma lanterna e uma garrafa de oxigénio em qualquer coisa de alcoólico".

Minna surpreende Anton a tentar levar a sua escova de cabelo à boca. Não é a primeira vez que acontece, nem será a última. Manda-o sentar-se e ralha-lhe. Webern procura desculpar-se. "Os dentes da tua escova para cima, muito perto uns dos outros... muito parecido com as árvores na Amazónia... as raízes para baixo... todos os dias no teu cabelo..." Passa lá fora um camião cheio de barris de vodka. Minna distrai-se, olha para baixo, Anton engole a escova.

Nenhuma novidade. O teatro está fechado. Hoje Webern assobia sob uma oliveira. Em cima 50% de céu, em baixo 50% de chão.

Duas perseguições

Anton Webern ainda não era nascido. Os seus avós chegaram a casa. A avó disse: "Tens de podar a oliveira. Qualquer dia os ramos crescem tanto que partem os vidros e entram pela casa dentro". "Para reaver as azeitonas", pensou o avô.

A mãe de Anton corre atrás dele: "Mato-te com a enxada!" grita ela, empunhando de facto uma enxada. Anton foge para uma horta seca. Riem os dois. São duas horas da tarde, Anton alcança o poço.

Aventuras

Às sete da manhã, enquanto o sol subia, a rapariga estava em cima do terraço. Dizia a medo: "bronzeia este corpo: o país das pernas, o país do peito". Este é o primeiro de quarenta dias.

e
duas sobrancelhas silvestres

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