quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Logo para começar: o senhor Baguinho

A imaginação popular de Fernando Baguinho

Assinou centenas de quadros mas não é pintor. Escreveu outros tantos poemas mas não lhe chamem poeta. “Nunca li um livro de poesia. Sou poeta popular, escrevo o que me vem à cabeça, coisas da vida real.”
Gosta de ironizar e é assim que reage aos desmazelos políticos, à saudade, à demolição do Martim Moniz nos anos 40 e 50, que não se cansa de censurar, todos estes anos depois. “Censuro muito, até em relação às mulheres, ou a mim próprio”, exemplifica, citando-se numa enigmática passagem em que alude à reputação de “aldrabões” de que gozam os sapateiros: “Eu sou o catedrático das profissões/ todas elas são a minha/ sapateiro”.
Qual é a arte de Fernando Baguinho, 74 anos, nascido, casado e vivido na Mouraria, sapateiro desde os nove e sem mais ensino do que a instrução primária? É pegar em fotografias, recortes, fotocópias, colá-los no centro de uma tela, que pode ser um pedaço de madeira, escrever por baixo os versos que lhe ocorrem e decorar o conjunto com geometrias desenhadas a marcador sobre fundo de cartolina, tudo muito bem emoldurado.
O “entretém” das horas mortas do trabalho, que a televisão aborrece ainda mais, animou-lhe os últimos 25 anos, todas as tardes, e merece bem a exposição que inaugura no dia 1 de Março, às 16h - o primeiro acto da Festa de Aniversário da ARM, que incluirá tertúlia fadista com João Penedo, Marco André e Ricardo Rocha, génio da guitarra portuguesa.
O fado e os fadistas que tão bem conhece, os pregões desaparecidos e as figuras típicas, os reis e a história de Portugal, a Mouraria dos seus tempos de mocidade dão tema à inspiração de Baguinho, poeta popular, bairrista e tudo.

Local: Forno do Alfarrabista, Beco dos Cavaleiros, 7-13.

Só não vai quem já morreu

ou tem, pfff, outros afazeres.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A Índia tem a vaca

Como Nápoles tem o cãozinho

Lisboa tem Santo António

Como Nápoles tem São Diego.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Andei eu a tomar Pharmaton

Quando precisava era de Clarice Lispector.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Excitar a cidade

Há umas poucas de horas vários grupos e associações apostados em melhorar a vida das colectividades em que se inserem apresentaram uns aos outros as respectivas experiências no terreno. O encontro foi promovido pelo Centro Social da Mouraria no âmbito dos chamados "The C Days - Encontros sobre a nova comunidade", sob o tema "Como activar uma comunidade?".
Veio gente do Banco do Tempo do Lumiar e do Banco de Voluntariado da Câmara Municipal da Amadora, do Trocal de Lisboa e do projecto "Contacto Cultural", do Centro Mário Dionísio e da Associação Renovar a Mouraria, à qual tenho o prazer de pertencer. Aqui e ali, lá foram surgindo esses conceitos avulsos que agora se usa a torto e a direito, importados do marketing e da economia, mas sem substância política ou filosófica.
Foi a escritora Eduarda Dionísio, fundadora da Abril em Maio (associação cultural que entre 1994 e 2004 tertuliou, debateu, editou, procurando estimular a participação das pessoas na produção cultural), quem finalmente pôs os pontos nos is. Mas com tal veemência, que o chão entre os nossos pés parecia estalar e já se abria o precipício que deixaria de um lado "os críticos da sociedade" e do outro "os que se adaptam a ela" (qual entidade separada de nós). Mas para os abismos das grandes dicotomias não me empurrem que eu não caio, nem ninguém caiu, no final.
Resumindo, acho que o C Day até correu bem, apesar de não gostar do nome. Foi bom ver questionado certo palavreado mercantiloide e paternalista, mas também acho que as pessoas às vezes falam pior do que fazem - não justifica, mas é melhor do que o contrário. E ali se viu como estamos, pouco a pouco, grupo a grupo, mais activos, de diferentes formas e em mais lugares, já não na harmonia do pequeno grupo culto que fala a mesma língua, mas na dissonância, na complementaridade, pelas mãos do mais variado people.
Afinal não temos de escolher entre a rata de sacristia e o viciado em gás lacrimogéneo. Podemos trabalhar com o "Banco de Tempo", que com o seu caricato sistema cambial converte o reformado deprimido em voluntário no ATL de crianças, e com a antropóloga que anda com os miúdos da Mouraria a desenhar o mapa da cidade tal como eles a vêem, para saber como vivem, o que lhes falta, que estão zangados com a escola e sonham trabalhar na caixa registadora do Pingo Doce.
Se isto é activar a comunidade, gritar aos ouvidos da sociedade, fazer cócegas ao colectivo ou excitar a cidade (nos seus pontos heterogéneos), dá que pensar mas não dá para parar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

I carried a watermelon

Há pessoas que não sabem reagir a um cumprimento. Pela minha parte já disse todos os disparates possíveis em resposta a uma cortesia, como também sou especialista em dar as boas noites logo pela manhã e já tenho agradecido muitíssimo obrigadíssimo. Compreendo bem os disparos sociais no próprio pé social.
Mas que risada e que enternecimento há bocadinho, quando um cavalheiro reformado disse à empregada da pastelaria
- está com o cabelo muito bonito,
sobre o mesmo penteado que lhe vejo há anos,
e ela, muito vermelha, respondeu
- é do frio.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Voltei, voltei

Amigos e amigas,
é com prazer que regresso a este modesto miradouro. Entre os motivos da ausência conta-se uma semana de férias em Marrocos, um belo país, merecedor de mais extenso comentário que postarei em breve assim a saúde permita. Adianto por ora que ninguém quis cambiar-me por camelos, para grande decepção desta "gazela", como chamam por lá à mulher estrangeira (essa persona turística da qual, por mais que queiramos - e nós queríamos - não é fácil descolar). Deserto nem vê-lo, não se pode ter tudo. Mas aproveitei a neve nas montanhas do Atlas e estreei-me no ski, em Oukaimeden. Apreciai o estilo.