quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Para Fez ou para a prisão n.º 400

Era uma vez um homem que caminhava no deserto. Do nada, apareceu-lhe uma criatura de barbas e voz sobrenatural.
- Bom dia,
disse Deus.
- Bom dia,
respondeu o homem.
- Para onde vais, meu bom homem?
- Vou para Fez.
- Vais para Fez, se Deus quiser.
- Vou para Fez, quer Deus queira quer não queira,
respondeu o homem, ao que Deus reagiu com gesto irado, transformando o homem em sapo. Depois criou um charco para o sapo e desapareceu.
Passaram anos até que Deus, num raro momento de descontracção, se lembrasse do homem e do charco.
- Deve estar mais humilde,
pensou, e decidiu visitá-lo.
- Bom dia,
exclamou o celeste, depois de transformar o sapo em homem.
- Bom dia,
respondeu o homem, enquanto caminhava.
- Para onde vais?
- Vou para Fez,
começou o viajante, mas nem bem terminava a frase e já chapinhava no charco. E somaram-se décadas até que a compaixão apagasse no divino coração a ofensa.
- Teve tempo de aprender a lição,
reflectiu o omnisciente, antes de voltar a descer à terra e devolver a fala ao cativo.
- Bom dia, meu bom homem. Ora diz-me cá, para onde é que tu vais?
- Vou para Fez ou para o charco.

Estava a ler a notícia da terceira prisão de Omer Granot, israelita, pacifista, linda, quando me lembrei desta história. Objectora de consciência num país em que o serviço militar é obrigatório, Omer iniciou hoje a terceira detenção na prisão n.º 400, numa base militar próxima de Telavive. "Recuso-me a servir num exército que comete todos os dias crimes de guerra nos territórios palestinianos ocupados", diz ela. Tem a particularidade de ser filha do ex-número 2 da Mossad (os serviços secretos israelitas).

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